
O Mindful Eating é uma ferramenta que visa promover uma alimentação consciente, com atenção as escolhas alimentares, sensações emocionais e sinais físicos de fome e saciedade.
Por Gevan Oliveira
psicólogo
Lidar com o peso pode ser desafiador, especialmente quando sentimos que não temos controle sobre nossos hábitos alimentares. Muitas vezes, comemos por impulso, estresse ou simplesmente por hábito, sem perceber as razões por trás dessas escolhas. É aí que entra o conceito de Mindful Eating – ou alimentação consciente.
O Mindful Eating é uma abordagem que propõe uma relação mais equilibrada com a comida, ajudando você a identificar o que está levando ao excesso ou à falta de controle alimentar. Diferente de dietas restritivas, que focam apenas em “o que comer”, o Mindful Eating convida você a prestar atenção em “como” e “por que” está comendo.
O que é Mindful Eating?
A prática de Mindful Eating está relacionada à atenção plena (mindfulness) e consiste em estar presente durante as refeições. Isso significa comer com atenção aos sinais de fome e saciedade, aos sabores, texturas e cheiros dos alimentos, e também aos seus pensamentos e emoções durante a refeição.
o método ajuda a entender os gatilhos que levam a pessoa ao excesso alimentar, uma das portas de entrada para transtornos alimentares, como Anorexia, Bulimia, Transtorno de Compulsão Alimentar, dentre outros.
Jon Kabat-Zinn, médico americano que trouxe o conceito do mindfulness para a psicologia e nutrição, explica em seus estudos que as técnicas do mindful eating não visam o emagrecimento, mas isso acaba acontecendo porque elas modificam a forma de se comportar diante dos alimentos de maneira prazerosa e consciente.
Para tanto, o mindful eating estuda a relação entre alimentação e as emoções no intuito ajudar de promover escolhas mais conscientes, saudáveis e equilibradas, evitando comportamentos alimentares disfuncionais que geralmente levam à obesidade, por exemplo.
A doutora em psicologia, @lianedahas, uma das autoras do livro Ciência do Comportamento Alimentar, explica que o treino do mindful eating pode ser realizado, no consultório, com a apresentação de diferentes alimentos, conhecidos ou desconhecido pelo cliente, com diferentes cheiros, formas e texturas, de olhos vendados ou não.
Em seguida o paciente é orientado a aplicar essa e outras técnicas no dia a dia, seguindo regras de aceitação, desapego e compromisso. A psicóloga afirma que a experiência “auxilia no fortalecimento da consciência de si, na autopercepção e na flexibilidade em experimentar diferentes sabores”.
A prática tem sido utilizada por psicólogos cognitivos-comportamentais e por nutricionista e parte do princípio de que o ato de comer deve estar atrelado a quatro elementos: saborear, observar, estar presente no momento e não julgar.
Como o Mindful Eating pode ajudar?
- Reconhecer os gatilhos emocionais: Você come por fome ou para lidar com emoções como estresse, tristeza ou tédio? O Mindful Eating ajuda a diferenciar fome física de fome emocional.
- Desacelerar o ato de comer: Comer devagar melhora a digestão e dá tempo para o cérebro registrar a saciedade, evitando excessos.
- Aproveitar o momento presente: Quando você come com atenção, aprecia mais o sabor e a textura dos alimentos, reduzindo a necessidade de quantidades maiores.
- Construir uma relação saudável com a comida: Ao praticar a alimentação consciente, você deixa de ver a comida como inimiga e passa a reconhecê-la como fonte de nutrição e prazer.
Como começar?
- Faça uma pausa antes de comer. Pergunte-se: “Estou com fome ou com vontade de comer?”
- Desligue as distrações, como TV ou celular, e foque no que está no prato.
- Mastigue devagar, sentindo os sabores e texturas de cada pedaço.
- Observe como seu corpo responde a cada mordida e pare de comer quando se sentir satisfeito.
Praticando Mindful Eating com frutas
Frutas são alimentos nutritivos, naturalmente saborosos e ideais para exercitar a alimentação consciente. Veja como fazer:
- Escolha a fruta com atenção: Pegue uma maçã, uma banana ou uma tangerina. Observe sua aparência, textura e cores. Sinta o aroma antes de começar a comer.
- Comece com pequenas mordidas: Ao morder uma maçã, por exemplo, concentre-se no som da mordida, na sensação dos sucos na boca e no sabor adocicado ou levemente ácido.
- Sinta a textura: Com uma banana, perceba como ela é cremosa e macia. Com uma uva, sinta a casca antes de chegar à polpa.
- Mastigue devagar: Deixe cada pedaço permanecer na boca por um momento antes de engolir, aproveitando cada sensação que ele proporciona.
- Agradeça pelo alimento: Após terminar, reflita sobre o que aquela fruta proporcionou – nutrição, energia e prazer.
Mindful Eating e a psicologia
Há uma relação profunda entre o Mindful Eating e a psicologia, uma vez que o trabalho do psicólogo ajuda a lidar com questões emocionais, comportamentais e cognitivas relacionadas à alimentação. Vejamos algumas das conexões mais importantes:
1. Compreensão de Gatilhos Emocionais
Na psicologia, reconhece-se que muitas vezes comemos por razões que não têm a ver com fome física. Ansiedade, tristeza, tédio e estresse podem levar ao chamado “comer emocional”. O Mindful Eating ajuda as pessoas a identificar esses gatilhos, promovendo maior autoconsciência sobre como as emoções afetam seus hábitos alimentares.
2. Redução da Ansiedade Alimentar
A prática do Mindful Eating reduz a relação de culpa e ansiedade que muitas pessoas têm com a comida, especialmente em casos de compulsão alimentar ou dietas restritivas. Ao focar na experiência de comer, em vez de no julgamento sobre “o que” está sendo consumido, promove-se uma relação mais saudável e equilibrada com a alimentação.
3. Intervenção Cognitivo-Comportamental (TCC)
O Mindful Eating pode ser integrado a abordagens psicológicas como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Na TCC, trabalha-se para identificar pensamentos automáticos e crenças disfuncionais sobre alimentação (como “eu nunca tenho controle sobre o que como”) e substituí-los por padrões mais realistas e saudáveis. O Mindful Eating complementa essa abordagem ao incentivar uma atenção plena e não julgadora durante as refeições.
4. Autocompaixão e Aceitação
A psicologia também enfatiza a importância da autocompaixão, especialmente em casos de transtornos alimentares. O Mindful Eating promove uma atitude gentil e compassiva consigo mesmo, ajudando a pessoa a aceitar suas escolhas alimentares sem julgamento severo.
5. Melhora da Regulação Emocional
Praticar Mindful Eating ensina a diferenciar fome física de fome emocional. Essa distinção é essencial para desenvolver habilidades de regulação emocional, ou seja, aprender a lidar com emoções difíceis sem recorrer à comida como escape.
6. Aplicações Terapêuticas
O Mindful Eating tem sido utilizado em contextos clínicos para tratar:
- Transtornos alimentares, como compulsão alimentar e bulimia;
- Ansiedade e depressão, ao reduzir comportamentos de compensação emocional;
- Obesidade, ajudando a criar hábitos mais conscientes e sustentáveis;
- Estresse, já que a prática promove relaxamento e maior atenção ao momento presente.
7. Promoção do Bem-Estar Geral
A psicologia positiva, que foca em bem-estar e qualidade de vida, também se relaciona ao Mindful Eating. Comer com atenção plena promove gratidão, satisfação e prazer com a comida, contribuindo para uma sensação geral de felicidade.
Conclusão
O Mindful Eating não é apenas uma técnica de alimentação, mas uma abordagem que promove autoconhecimento, autocuidado e equilíbrio emocional. Ele ajuda as pessoas a transformar a relação com a comida e consigo mesmas, atuando como uma ferramenta valiosa em intervenções psicológicas e na promoção da saúde mental.
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