Conheça a TCC

Você sabe por que a TCC é tão indicada hoje para tratar psicopatologias; entenda a origem e a eficácia dessa abordagem

O psiquiatra americano Aaron T. Beck fundou com sua filha, Judith, o Instituto Beck em 1994, que, desde então, capacitou em terapia cognitivo-comportamental mais de 25 mil profissionais de saúde mental em 130 países


A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é atualmente a única psicoterapia com evidências científicas para o tratamento de transtorno de pânico, fobias, e ansiedade social, dentre outras psicopatologias, sendo recomendada oficialmente pelo Instituto Nacional de Saúde e Excelência em Cuidados (NICE) da Inglaterra.

Já a Associação Americana de Psicologia (APA), que disponibiliza um guia online sobre práticas psicológicas baseadas em evidências, destaca as diversas modalidades de TCC para o tratamento de todos os transtornos de ansiedade, depressão, esquizofrenia, uso abusivo de drogas, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtorno de Personalidade Borderline, Transtorno de Ansiedade Generalizada, Fibromialgia, dentre outros.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também orienta a aplicação da TCC para vários distúrbios psiquiátricos, e no desenvolvimento de habilidades sociais e de resolução de problemas.

Essas três autoridades em saúde no mundo recomendam a TCC pelo fato de ser um modelo de psicoterapia que tem resultados comprovados cientificamente e corroboram à constatação de que é uma das abordagens mais aplicadas e bem sucedidas da atualidade.

Origem – A Terapia Cognitivo-Comportamental é um modelo de psicoterapia que combina técnicas da abordagem cognitiva e estratégias comportamentais visando a modificação e aprendizado de novos comportamentos. A TCC ajuda o paciente a identificar pensamentos, crenças e hábitos que são disfuncionais, de maneira empática, diretiva, e com foco na resolução de problemas.

Para a TCC a percepção das pessoas sobre suas experiências de vida é a chave para entender o motivo do sofrimento psíquico.

A gênese dessa abordagem leva a meados da década de 1950 quando o professor de psiquiatria da Universidade da Pennsylvania, e psicanalista, americano Aaron Temkin Beck (1921-2021), desenvolveu pesquisas com seus pacientes para verificar a eficácia dos pressupostos da psicanálise sobre a depressão.

Até então, Freud entendia que pessoas deprimidas tinham uma espécie de necessidade de sofrer, sendo a depressão resultante de hostilidade voltada contra si mesmo, o que era chamado de “hostilidade retrofletida”.

No entanto, nas observações clínicas de pacientes depressivos, Becker percebeu uma conceitualização cognitiva da depressão na qual os pacientes apresentavam, atrelados aos sintomas, um estilo negativo de pensamento sobre si mesmos, sobre o mundo e o futuro (tríade cognitiva negativa).

Após estudar os “pensamentos automáticos” deles, Beck percebeu que se fossem examinados e confrontados a pessoa conseguiria reconhecer que a sua percepção estava distorcida. Então começou a auxiliar seus pacientes a entender a relação e influência negativa desses pensamentos em seus comportamentos e emoções, bem como os orientou a testar mudanças nas crenças adquiridas ao longa da vida.

Beck concluiu que não eram as situações/eventos que causavam a depressão, mas, sim, a percepção que se tem dessas questões. Nesse sentido uma terapia cognitiva poderia ser útil para reconhecer que sua visão era distorcida e a encontrar uma maneira mais realista ou ampla de pensar sobre os fatos geradores de problemas.

Após a criação e aplicação de sistemas de avaliação, a maioria de seus pacientes teve remissão dos sintomas depressivos de maneira mais rápida do que com a abordagem freudiana, até então a mais usada. Dessa forma, o psiquiatra começou a demonstrar a eficácia ao aplicar métodos científicos para garantir provas empíricas no tratamento da depressão, algo que não existia à época.

Beck propôs, então, uma terapia cognitivamente orientada para reversão das cognições disfuncionais e de comportamentos a qual foi testada e, posteriormente, estendida aos mais variados quadros clínicos, como distúrbios de personalidade e esquizofrenia.

Com o passar dos anos, a terapia cognitiva de Beck agregou práticas de outras abordagens que também pudessem passar pelo escrutínio da ciência, como as técnicas da terapia comportamental, dando origem às diversas terapias cognitivo-comportamental usadas hoje por psicólogos em todo o mundo.

Atualmente, esta abordagem é o método terapêutico mais praticado em todo o mundo, usado para tratar a depressão, a ansiedade, os transtornos alimentares, os transtornos de personalidade e outros problemas psiquiátricos.


Falecido em novembro de 2021, ao 100 anos, Aaron Beck, fundou em 1994 o Instituto Beck, junto com sua filha Judith, para a formação de profissionais e pesquisa na área. Desde então, mais de 45 mil profissionais de saúde se especializaram em TCC, em mais de 130 países. Beck também é reconhecido por ter criado alguns dos métodos mais usados no mundo para avaliar os sintomas e gravidade da depressão e ansiedade, dentre eles a Escala de Depressão de Beck (BDI), Escala de Desesperança de Beck, Escala de Ideação Suicida de Beck (ISS), e a Escala de Ansiedade de Beck (ISS).

Fontes usadas no texto:
Knapp, P., & Beck, A. T.. (2008). Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Brazilian Journal of Psychiatry, 30, s54–s64. https://doi.org/10.1590/S1516-44462008000600002 https://www.nice.org.uk/news/press-and-media/new-nice-quality-standard-aims-to-improve-recognition-assessment-and-availability-of-treatments-for-anxiety-disorders
https://g1.globo.com/saude/noticia/2021/11/02/aaron-t-beck-pai-da-terapia-cognitivo-comportamental-morre.ghtml
https://beckinstitute.org/pt/training/
https://www1.folha.uol.com.br/blogs/saude-mental/2023/06/tcc-e-terapia-mais-indicada-para-ansiedade-e-panico.shtml
https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2023/06/19/interna_bem_viver,1509321/terapia-cognitivo-comportamental-alternativa-eficaz-para-depressao.shtml